VEREADOR ADALBERTO: “Violência é a falta de médicos!”

Em seu discurso na sessão desta quinta-feira, o vereador Adalberto Araujo (PSB) comentou sobre a onda de protestos no pais. O parlamentar, que exerce seu primeiro mandato, fez questão de ressaltar a “violência institucional” sofrida pela população. Confira a integra do discurso.

Discurso do Vereador Adalberto Araújo (PSB), de 19.06.2013

“Sr. Presidente, Sras. e Srs. Vereadores, Srs. Servidores, companheiros da imprensa, população que nos prestigia;

Aproveito a tribuna esta noite para externar a minha opinião, a leitura que faço a respeito da onda de manifestos que estamos presenciando em todo país.

Primeiramente, quero dizer que concordo com o Senador Roberto Requião quando ele afirma que as vaias na abertura da Copa das Confederações não foram somente para a presidente Dilma ou para o Partido dos Trabalhadores, mas para toda a classe política. Penso que aquele protesto, como os demais que se seguiram pelas ruas brasileiras não foram somente em relação aos gastos com a copa. Mas a última gota no copo.

O que estamos vivenciando, neste tempo, é uma manifestação histórica da democracia participativa. Na leitura do art. 14 da Constituição da República, descobrimos que existe tanto a democracia representativa, através dos políticos eleitos, como a democracia participativa, através de conselhos, conferências, e, também, de manifestos, como estes. Lembremos inclusive que projetos podem ser propostos através da iniciativa popular. Como por exemplo, a lei federal da Ficha Limpa, concebida e aprovada fundamentalmente em função do clamor popular.

O que estamos presenciando, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Vereadores, é na verdade um caminho de amadurecimento necessário para resgatarmos o papel das instâncias representativas, em todos os níveis, mas em especial por parte dos partidos políticos e seus expoentes. A verdadeira política tem de ser feita não apenas nos palácios, nas Casas Legislativas, onde muitas vezes, infelizmente, se negociam prebendas para apoiamento de governos ou projetos de poder. Temos de voltar a fazer política nas bases, ouvindo as pessoas. Em geral, os partidos ouvem muito pouco a sociedade. Bem por isso, não raramente, acabam buscando benefícios a si próprios.

Se de um lado é certo que devemos lamentar os excessos, os atos de violência praticados por uma minoria, não menos certo é que não são os atos de violência que devem ser destacados. Destacar essa violência é não ver o cotidiano dos pobres neste pais. É não atentar para a classe trabalhadora, esta sim, que sofre uma violência institucional cotidiana: nos empregos, nas relações sociais, nos hospitais. Ou não é violento você chegar na Unidade de Saúde e não ser atendido? É não ter como fazer exames? É não ter médicos nem remédios? Peregrinar pela cidade em busca de atendimento?

Não é violento, por acaso, obrigar um vendedor de cachorro quente a pagar uma fatura de 9 mil reais de água em um único mês? Não e violento transportar a população que trabalha e estuda apinhada em ônibus sucateados, pagando-se uma passagem que é das mais caras do país?

Tecnicamente, aprendemos na faculdade que isso se chama “violência institucional”, e é contra essa violência que o pais agora se insurge. E a reflexão, por parte da classe política, se faz necessária.

Em que medida nós temos instituições que violentam pessoas a cada dia e criam, nas formas de convivência, a possibilidade dessa violência se reproduzir? Trata-se de um problema mais profundo, de uma questão muito mais ampla.

Que resultados se pode esperar a partir desses movimentos? Isso irá marcar uma mudança nas instituições brasileiras? Penso que sim.

Vemos governantes retrocedendo, revogando aumentos, prestando contas à população, sinalizando estarem abertos a uma discussão coletiva, a ouvir. Esta simples mudança de postura já constitui um avanço que poderá gerar mais confiança nas instituições. O que hoje não ocorre, nem no Executivo, nem no Legislativo, nem no Judiciário.

Ou percebemos o recado que a nação nos passa neste momento, ou esses episódios tendem a se propagar.
A população, creio, a partir de agora estará mais atenta, mais crítica, mais diligente. E é ela quem vota. Quem nos outorga o mandato. Quem escolhe o rumo que devemos tomar.

Outra ponderação que faço, Excelências, a partir do que tenho lido, assistido e presenciado, é que parece haver uma consciência crítica por parte dos manifestantes, no sentido de rechaçar qualquer tentativa de usar o movimento para promoção político-partidária. Quem pensa estar se aproveitando dessas pessoas para seus projetos pessoais, corre o risco de passar vergonha, pois boa parte das pessoas que participam dos debates e manifestações, já identificou e preveniu contra esses aproveitadores.

No que diz respeito a nossa cidade, tão abandonada, tão esquecida, tão maltratada, eu espero que todos nós façamos a lição de casa. Quem sabe, aproveitando o momento para sinalizar que esta Casa é realmente a “Casa do Povo”, ajudando a aprovar o nosso projeto “Tribuna Cidadã”, dando voz à sociedade em nossas sessões. Quem sabe, aprovando outra proposição deste colega, a da “Ficha Limpa Municipal”, sinalizando para a população que nós somos contra a corrupção, contra a imoralidade, contra a impunidade.

Que Deus nos abençoe e nos inspire.

Muito obrigado.”

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